Devido ao crescimento contínuo das preocupações ambientais e da evolução do tema ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), as empresas do Brasil e do mundo iniciaram um processo de desenvolvimento de controles e de medidas mitigatórias, seja através de programas e/ou de sistemas internos, que visam a preservação do meio ambiente e a diminuição dos impactos ambientais ocasionados por suas atividades. A esta conduta chamamos de “Responsabilidade Socioambiental”, que, por sua vez, corrobora para o desenvolvimento sustentável das organizações.
Indo além dos conhecidos programas que visam a mitigação da degradação ambiental (veja os artigos “A ISO 9001 como ferramenta de Desenvolvimento Sustentável na Construção Civil”, “Programa de Compliance Ambiental e o Projeto de Lei 5442/2019”, “ESG e a Criação de Valor ao Negócio” e “ESG – Responsabilidade Socioambiental na Construção de Organizações Modernas” em nosso Blog), atualmente, vem ganhando destaque os Green Bonds como aliados Desenvolvimento Sustentável. Os empresários e investidores que já possuem uma visão madura acerca da importância de se fomentar a temática ambiental, certamente têm familiaridade com este novo título de investimento que vamos tratar neste artigo.
Compreendendo o que são Green Bonds
Na tradução literal são “Títulos Verdes” que, na prática funcionam como uma espécie de investimento em projetos, cujas metas são voltadas a resultados sustentáveis, bem como infraestrutura de energia limpa e renovável, transporte verde e projetos capazes de reduzir emissões de poluentes, tecnologia e infraestrutura de redução e controle do consumo de água, energia e matérias-primas, e que geram uma “renda fixa” aos seus financiadores.
A principal diferença entre um título comum e um título verde é que o primeiro só pode ser emitido com o objetivo público e único de financiar projetos sustentáveis. Os processos de análise e verificação do objetivo, de modo que se assegure a destinação correta do investimento em ações cujo foco seja a preservação ambiental ou com a temática climática, são realizados por empresas especializadas.
Com isso, é possível afirmar que o investidor que se propõe a adquirir estes títulos, está corroborando para o desenvolvimento sustentável, fortalecendo a maturidade e o compromisso com o tema ESG no Brasil e no mundo.
A Origem dos Green Bonds
Os primeiros títulos sustentáveis do mundo surgiram em Novembro de 2008, com a emissão da chamada Climate Awareness Bond (CAB), quando o European Investment Bank (EIB) e o World Bank emitiram cerca de 500 milhões em Green Bonds.
No Brasil, a responsável pelos primeiros Green Bonds foi a BRF, que captou cerca de 300 milhões de euros, seguida pela Suzano, AES Tietê, Taesa, entre outras empresas de grande visibilidade no Brasil, que conseguiram captar investidores, inclusive internacionais, chegando atualmente ao volume total de emissões em Green Bonds em cerca de U$ 20 bilhões.
Tendo em vista o potencial do Brasil, dada nossa indústria do agronegócio e tantas outras, além de nosso alto fluxo de importação, a possibilidade de evolução em ativos verdes, ou seja, em projetos sustentáveis, é bastante expressiva.
Dentre os títulos verdes atuais, podemos citar, sem nos limitar: Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
Mundialmente é visto que as organizações que estão investindo em Green Bonds vêm aumentando o seu valor de mercado, pois a partir do momento em que apostam no desenvolvimento sustentável, tem sua imagem atrelada à modernidade, compromisso socioambiental, além de outro benefício extremamente importante: a transparência no uso de seus recursos captados, promovendo assim uma credibilidade inigualável.
Como funcionam e Quem são os Emissores de Green Bonds
A emissão dos Green Bonds pode ser feita tanto por entidades financiadas por governos, quanto pelo setor privado. Entretanto, é preciso que para essa emissão exista um agente denominado de second opinion, que nada mais é do que uma consultoria externa para acompanhar a utilização dos recursos e precisa, ainda, criar uma estrutura de fiscalização.
Portanto, as companhias que pretendem emitir Green Bonds no Brasil devem enviar os projetos para à Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) e para o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Após a aprovação da FREBRARAN e do CEBDS os títulos ficam disponíveis no mercado para os investidores.
Segundo as orientações da FEBRABRAN, Federação Brasileira de Bancos, para a emissão de um Green Bond no Brasil é necessário seguir três passos:
- Processo de pré emissão ou etapa de verificação, na qual é realizada uma análise de mercado, em que se avalia os riscos e oportunidades da operação, após ela ser considerada elegível e desenhada como um título verde.
Alguns exemplos de projetos elegíveis para geração de Green Bonds são: Desenvolvimento de energia renovável, projetos de desenvolvimento e otimização de eficiência energética, prevenção, controle e monitoramento de emissão de poluentes, medidas para preservação e conservação da biodiversidade, desenvolvimento e investimento em transportes denominados limpos, gestão para otimização e controle do uso de recursos híbridos, entre outros.
Nesta etapa também é feito um planejamento de avaliação externa, afinal, para garantir a transparência do projeto, é envolvida uma terceira parte, neste caso, uma empresa terceirizada independente e com know how adequado.
- Processo de emissão, em que o título é efetivamente criado, e apresentado para os investidores.
A emissão do título verde depende de que haja uma instituição financeira coordenadora líder da oferta, que, por sua vez, será responsável por coordenar todo o processo de oferta e gestão do mesmo, colocando-o disponível para conseguir captar investidores.
- Processo pós emissão, em que trata do acompanhamento e monitoramento do título e do reporte acerca das captações e manutenções que se fizerem necessárias ao longo do projeto. Além disso, nesta etapa, se realiza também o controle dos recursos obtidos com a emissão para os indicadores de desempenho ambientais.
Por exemplo: em um projeto de transporte limpo, é verificada a quantidade de toneladas de gás carbônico na atmosfera.
Se algum ativo for emitido com o título de ser Verde e descumprir com algum processo previsto na emissão, ele perde a característica de ser sustentável e se mantém apenas como um título tradicional.
Como Investir em um Green Bond
O primeiro passo para investir em títulos sustentáveis é ler os prospectos das ofertas, onde é possível identificar quais os projetos, a remuneração e os prazos.
O investidor que deseja aplicar em Green Bonds deverá primeiramente conhecer quais são as companhias brasileiras que estão desenvolvendo projetos voltados à sustentabilidade. Para tal, um dos caminhos possíveis é adotar o ISE como métrica desta pesquisa.
O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 foi criado exatamente para analisar as companhias que se enquadram em um perfil de desenvolvimento sustentável corporativo, trabalhando para atingir a eficiência econômica, o equilíbrio ambiental, a justiça social e o desenvolvimento e melhoria contínua da governança corporativa. A análise para se considerar a empresa elegível ao ISE da B3 é realizada com base em uma série de critérios, estudados de forma aprofundada por onze instituições.
O ISE da B3 possibilita que os investidores interessados, possam também aplicar em empresas que possuam o perfil aderente ao título de “desenvolvimento sustentável corporativo”, fomentando o objetivo principal que é buscar a rentabilidade levando em conta os desdobramentos que as atividades desenvolvidas trazem, evoluindo a Responsabilidade Socioambiental, tão necessária aos dias de hoje.
Vantagens de se Investir em Títulos Verdes
A grande vantagem de investir em títulos verdes é colaborar com a preservação do meio ambiente. Porém, há mais aspectos positivos que merecem ser citados, bem como:
– Green Bonds são validados e monitorados por consultoria especializada, assegurando que os recursos investidos irão de fato ser direcionados para os fins idealizados, evitando desvios indevidos, assegurando inclusive a satisfação do investidor e a transparência em seus investimentos, reverberando na sua credibilidade perante o mercado;
– Oportuniza a diversificação da carteira de investimentos, além de ser um título de perfil conservador, pois sendo de renda fixa ele é menos arriscado, atendendo a uma maior gama de investidores do mercado;
– Para as empresas que geram e/ou emitem os títulos verdes, a grande vantagem é a sua imagem perante o mercado, que além de atuar indo de encontro aos padrões de exigência ESG atuais, também ganham credibilidade devido à transparência da gestão e destinação dos investimentos recebidos, uma vez que os Green Bonds são constantemente monitorados;
– Destaca-se também, que as empresas que emitem os títulos verdes, possuem o benefício dos incentivos fiscais através do Decreto 10.387/20. Desse modo, agora as empresas possuem benefícios fiscais nos projetos de infraestrutura que possuírem impactos socioambientais positivos;
– Segundo a Universidade de Oxford (2015), as boas práticas de ESG resultam em melhor desempenho operacional, o que confirma a relação positiva entre sustentabilidade e resultados financeiros.
Green Bonds e o Desenvolvimento Sustentável
O largo crescimento de investimentos em projetos sustentáveis corroboram para o amadurecimento da compreensão da responsabilidade socioambiental por parte das empresas. Tal evolução faz com que as organizações passem desenvolver o processo de identificação e controle dos riscos de impactos ambientais ocasionados pelas atividades desenvolvidas, prevendo ações de mitigação e de contingenciamento, que visem à preservação do meio ambiente.
É evidente, em números coletados pelos sindicatos das indústrias, que o uso de recursos naturais em larga escala, o alto índice de consumo de energia e de água nos processos produtivos no Brasil precisam ser rapidamente revistos, pois os impactos que o meio ambiente sofre vêm se tornando irreversíveis, além das multas e sanções que muitas vezes as empresas acabam sofrendo e inviabilizam a continuidade dos negócios, gerando prejuízos incalculáveis, capazes de levar os negócios à falência.
É possível então se pensar em desenvolvimento sustentável?
A resposta é sim, é possível! Através de programas e sistemas de gestão das atividades voltados à mitigação dos impactos ambientais e à conformidade legal e regulatória das mesmas.
O investimento pode inicialmente parecer grande, porém se analisarmos a longo prazo, os prejuízos à natureza nos custarão muito mais caros que a implementação de tais medidas e ferramentas de controle, oportunizando ainda a melhoria contínua do negócio.
Quando falamos em Programas e Sistemas de Gestão, estamos trazendo à tona a organização da empresa, verificando processo por processo, estruturando procedimentos de controle e de monitoramento a cada um deles, que de fato, na prática, irão agilizar e otimizar o andamento dos trabalhos e a produtividade.
Além disso, tal adequação se faz quase que obrigatória atualmente, levando em conta o perfil dos concorrentes e do público em geral, que diariamente adquire mais consciência e conhecimento acerca da importância da natureza em nossas vidas e de como ela poderá nos “cobrar” no futuro próximo, caso não façamos algo que vise preservá-la.
Os Green Bonds, são fruto deste amadurecimento de consciência por parte de todos, e sem dúvida alguma, o ponto inicial da compreensão de que o Desenvolvimento Sustentável não somente é possível, como também necessário.
Registros no Brasil
No Brasil, a emissão de Green Bonds registrada em 2021 totalizou US$ 4,25 bi em 2021, sendo este número uma confirmação de projetos e ações que têm por finalidade a preservação do meio ambiente vem ganhando cada vez mais espaço e que o perfil do empresário e de do público mudou nos últimos anos, tornando-se mais exigente, compreendendo que o desenvolvimento sustentável além de possível, se faz necessário. Os títulos verdes indicam as reais intenções das empresas que se apresentam como comprometidas com o ESG, gerando credibilidade perante o mercado como um todo.
O meio ambiente deve ser uma preocupação para todos os tipos de negócios e as empresas que não estiverem atentas aos impactos que causam ao meio ambiente, desenvolvendo controles, melhorias e investimentos em tecnologias que visem a sustentabilidade, certamente não estarão mais presentes no mercado em um futuro próximo.
Investir no ESG é investir no crescimento da sua empresa.
***
Se você gostou desse e quer saber mais a respeito, assine nossa newsletter para se manter atualizado ou escreva-nos para tirar suas dúvidas.
Abraços e até a próxima!
2 respostas