A falta de ergonomia no trabalho em home office acarreta consequências para a própria organização. A qualidade das entregas fica comprometida, o índice de retrabalho aumenta, podendo ocorrer atrasos pelo descumprimento de prazos e todas essas situações levam a prejuízos financeiros.
Neste início de ano, uma empresa do ramo de venda de móveis do Reino Unido (Furniture At Work) surpreendeu o mundo inteiro com um trabalho feito em IA (inteligência artificial) sobre os reflexos da ergonomia para quem trabalha de forma remota.
Foi criada uma personagem, que batizaram de Anna, sugerindo como ela seria no ano de 2.100, após trabalhar em home office sem um lugar adequado.
As imagens divulgadas pela mídia mundial aterrorizaram núcleos empresariais e profissionais como médicos e fisioterapeutas.
“Anna exibe muitos efeitos físicos devido ao uso consistente de tecnologia, exposição à tela e má postura, além de destacar possíveis problemas de saúde mental”, destacou a empresa.
Anna teria sido criada a partir de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Leeds[1] — que determinou 27% dos trabalhadores do Reino Unido não possuem um espaço em casa dedicado ao trabalho.
Imaginando o trabalho realizado na cama, sem intervalos, e sem iluminação adequada, Anna seria corcunda, ombros tensionados, com dedos em garra e olhos inchados, dentre outros tantos pontos de atenção.
Logo depois da polêmica, a empresa recuou e excluiu a postagem, sem qualquer explicação. Supostamente em função da ausência de dados que legitimariam a imagem divulgada.
Independente da fidedignidade do que as imagens trouxeram, soou um alarme mundial sobre a questão da ergonomia no trabalho, especificamente daqueles que trabalham em home office.
Mas afinal, as Adequações Ergonômicas são Responsabilidade de Quem?
Durante a pandemia, o trabalho ganhou outro viés, o home office passou a ser obrigatório e imediato. E, após, foi mantido, tanto pela relevância nos custos operacionais, como passou a ser uma exigência de diversos trabalhadores que privilegiam a qualidade de vida e o tempo despendido até o local de trabalho.
No último ano, entretanto, percebeu-se um grande discurso sobre a redução das oportunidades para interações pessoais informais e a troca espontânea de ideias, além da limitação do trabalho em equipe.
Funcionários das principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos – como Google, Amazon e IBM – foram cobrados para que retornassem ao trabalho presencial, nos escritórios.
Ainda que a tendência esteja sendo o retorno gradual ao trabalho presencial, ainda há enorme parcela de empresas disponibilizando o trabalho híbrido, intercalando o trabalho nas dependências da empresa com outros períodos de home office.
A barreira das empresas está nos trabalhadores de maior desempenho não aceitarem mais o trabalho 100% presencial. Em função do deslocamento, flexibilidade de horário e a proximidade da família.
Independente da forma de trabalho, as empresas estão cientes que é de sua responsabilidade a ergonomia oferecida. Não apenas por medo de uma ação trabalhista, como também pela preocupação com a saúde e o bem-estar de seus funcionários.
É necessário manter a integridade física ou mental do trabalhador, evitando qualquer tipo de dor, desconforto ou até mesmo o surgimento de uma doença ocupacional. Para isso é importante identificar os riscos ergonômicos no trabalho home office.
Como normalmente são postos de trabalho improvisados, o mobiliário não permite regulagens e ajustes. As cadeiras possuem assento ou encosto inadequado, ou ausente. Falta espaço para movimentação das pernas e braços, e espaço físico para depositar materiais de trabalho na mesa. A iluminação na maioria das vezes também não é adequada.
Riscos da Falta de Ergonomia no Home Office
Segundo o Ministério da Saúde, os riscos ergonômicos envolvem a execução de tarefas, a organização e as relações de trabalho.
Logo, seriam situações como:
- esforço físico intenso;
- levantamento e transporte manual de peso;
- postura incorreta;
- exigência de produtividade com pouco tempo;
- ritmo excessivo de trabalho;
- jornadas prolongadas;
- monotonia;
- repetitividade;
- situações estressantes.
Cada atividade oferece riscos ergonômicos diferentes. Por isso, cada empresa precisa observar suas próprias rotinas e processos para identificar as situações que podem comprometer a integridade dos seus colaboradores.
Essa abordagem possibilita otimizar a efetividade das medidas implementadas, direcionando investimentos para ajustes no ambiente, equipamentos de proteção e programas de segurança, saúde e bem-estar, de acordo com as necessidades e demandas da equipe.
É crucial destacar que o monitoramento deve ser contínuo, pois é importante verificar se as operações estão de fato controladas. Além disso, identificar novas necessidades e adaptar-se a mudanças nas normas regulamentadoras ou na legislação são outros aspectos essenciais desse processo.
Ignorando essa visão, a empresa terá um quadro de colaboradores cansados, desmotivados, pouco engajados e pouco produtivos.
Logo, os riscos ergonômicos trazem consequências para a própria organização. A qualidade das suas entregas fica comprometida, o índice de retrabalho aumenta, podem ocorrer atrasos pelo descumprimento de prazos e todas essas situações levam a prejuízos financeiros.
Outra repercussão desfavorável é o dano à reputação da empresa. Quando esta negligencia um ambiente de trabalho adequado para seus colaboradores, adquire notoriedade pelas condições precárias de trabalho, tornando-se pouco atrativa para os talentos mais qualificados.
Além disso, a falta de atenção ao bem-estar do trabalhador impacta negativamente nas políticas de inclusão, o que pode acarretar restrições no perfil dos profissionais interessados.
E mais, não observar os riscos ergonômicos também traz consequências nas esferas trabalhista, administrativa e previdenciária e podem ser um motivo para multas, indenizações, ações civis e reclamatórias e aumento de alíquotas. A empresa pode até mesmo ser interditada e os responsáveis responderem em esfera criminal.
NR17 – A Regulamentação da Ergonomia no Trabalho
Devido ao elevado índice de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais no Brasil, foi instituída pelo Ministério do Trabalho, uma norma regulamentadora específica para a ergonomia, conhecida como NR-17.
O propósito dessa norma é estabelecer padrões que possibilitem a adequação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos colaboradores, visando proporcionar um ambiente que ofereça o máximo de conforto, segurança e eficiência no desempenho laboral.
Não estamos mais na era da simples produção braçal, agora vivemos na era do conhecimento. As empresas modernas reconhecem que seu verdadeiro valor reside na saúde, criatividade, motivação e espírito inovador de seus colaboradores, não se limitando apenas ao patrimônio físico que possuem.
Para desfrutar dos benefícios de um trabalho em home office inovador, modernizado, e de alta qualidade, não é suficiente simplesmente enviar o colaborador para casa de um dia para o outro e esperar resultados. Isso não funciona. A empresa precisa prestar uma atenção especial, verificando e auxiliando o colaborador no planejamento de seu espaço de trabalho.
Embora muitas pessoas associem ergonomia apenas a uma mesa e uma boa cadeira, vai além disso. Para que o colaborador alcance resultados positivos em termos de qualidade de vida, criatividade e produtividade, é essencial antecipar e identificar os principais fatores de risco ergonômicos, corrigindo-os.
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Abraços e até a próxima!
Uma resposta
Vivian parabéns pelo excelente artigo.