Olá! Seja bem-vindo a mais uma pílula de conhecimento do Blog do Studio. Como costuma dizer a colega Maria Eugênia, é chegada a hora de dar uma pausa entre uma resolução e outra, para que a mente oxigene um pouco. Vamos juntos?
No dia 26/01/2023, por sinal, ela nos agraciou com sua reflexão aqui no Blog do Studio, analisando os fatos ocorridos nas Americanas, e trazendo a realidade sobre a Governança e Gestão Financeira.
Agora, gostaria de aproveitar a rica reflexão para abordar o evento sob uma perspectiva, até o momento, pouco explorada pela mídia e, por que não, pela própria Academia: Segurança da Informação à Gestão Financeira na prevenção de fraudes.
Apenas para relembrar, estamos falando da megalomaníaca fraude contábil nos relatórios financeiros da grande varejista Americanas, ignorada pela auditoria de uma renomada Big Four*.
Antes de mais nada, vale reforçar que Segurança da Informação não é Tecnologia da Informação (TI).
A confusão, muitas vezes, vem do fato de que uma área de Segurança da Informação está em evidência graças à transformação digital e sua necessidade inerente à cibersegurança.
A cibersegurança consiste em segmentação específica da Segurança da Informação, sendo responsável, entre outras atividades, por definir os métodos e tecnologias que serão usados à proteção de dados dentro do ciberespaço.
Já a Segurança da Informação tem um significado mais amplo, pois trata da proteção de todos os dados de uma empresa (sigilosos ou não), estejam eles arquivados de forma digital ou física.
E o que a Segurança da informação tem a ver com e a Governança Corporativa e a Gestão Financeira na Fraude Americanas?
Considerando que a colega Maria Eugênia já se encarregou de descrever a ocorrência e conceituar a Governança Corporativa, temos de concordar que, uma vez compreendido o que é a Segurança da Informação, fica cada vez mais clara a necessidade de uma gestão integrada de riscos – ou, se preferirem, Controle Integrado –, capaz de promover a Asseguração e Cobrança.
A Segurança da Informação, com base em frameworks internacionais como a ISO 27001 e as demais normas da série, trazem controles para diversos temas relacionados, mas, o primordial para a verdadeira implementação é que a Segurança da Informação precisa estar alinhada ao negócio. E o negócio, em qualquer tipo de organização, precisa gerar lucros, caso contrário o negócio não se sustenta e, a médio ou longo prazo, os acionistas não verão o porquê de sua existência.
A Segurança da Informação é uma integrante da Segunda Linha de Defesa das organizações, e sugere controles que visam permitir a Confidencialidade, Integridade e Disponibilidade dos dados.
Pensando em uma estrutura de Governança, com a Gestão Financeira atuando nos eixos corporativos vertical ou transversal, a atuação da Segurança da Informação precisa garantir que os dados fornecidos estejam blindados com relação a fraude.
Dessa forma, é possível atribuir credibilidade aos dados e informações submetidos ao conhecimento e deliberação dos Diretores e Conselheiros de Administração, e, consequentemente, ao insumo que será, posteriormente, auditado (isto é, submetido à Terceira Linha de Defesa).
Na prática, como isso deve acontecer?
Partindo-se do referencial ISO 27.001:2013, tem-se no ANEXO A os controles e seus objetivos. Nele, encontramos distribuídos, em 11 domínios, 114 controles que podem ser utilizados para reduzir riscos de segurança.
Os domínios são:
- A.5 – Política de Segurança;
- A.6 – Organização da Segurança da Informação;
- A.7 – Gestão de Ativos;
- A.8 – Segurança do pessoal;
- A.9 – Segurança Física e Segurança do Ambiente;
- A.10 – Gestão de Comunicação e dos Processos Operacionais;
- A.11 – Segurança de Acesso;
- A.12 – Aquisição, Desenvolvimento e Manutenção do Sistema de Informação;
- A.13 – Gestão de Incidentes de Segurança da Informação;
- A.14 – Gestão de Continuidade de Negócio; e,
- A.15 – Conformidade.
Invocando-se esses domínios de Segurança da Informação à Governança Corporativa e à Gestão Financeira das Americanas, é possível afirmar, apenas com base as notícias veiculadas na imprensa, que, se todos estivessem corretamente implementados naquela organização, além de testados e aprimorados mediante rodagem de um ciclo contínuo de monitoramento (PDCA), os riscos de fraude – ou seja, de edição, adulteração e/ou subtração de dados e informações financeiras relevantes – seriam significativamente menores.
Para facilitar o entendimento dessa afirmação, vale discorrer sobre cada um deles:
- Políticas de segurança da informação – Este domínio promove orientação à Direção e apoio para a Segurança da Informação de acordo com os requisitos do negócio e com as leis e regulamentações relevantes. Através delas, as Americanas poderiam ter instituído, sob apoio formal da Alta Direção, Políticas de Segurança da informação que abrangessem todo o negócio e as regulamentações a que está sujeito, deixando claro que os dados tratados deveriam respeitar não apenas a confidencialidade e disponibilidade a quem de direito, mas, também, mantidos em íntegros (permitindo a conferência de quem os gerou, quando e onde, procedendo ao rastreamento cronológico de edições).
Nessa linha, os dados recebidos e disponibilizados pelos Gestores e Executivos de Finanças e Contabilidade deveriam permanecer íntegros e confiáveis.
- Segurança em recursos humanos – Por serem os humanos o elo mais fraco na tríade “pessoas, processos e sistemas”, este domínio visa assegurar que antes, durante e no encerramento e mudança da contratação, funcionários e partes externas entendam as suas responsabilidades e se estão em conformidade com os papéis para os quais eles foram selecionados.
Isso serve a que os colaboradores tenham consciência de seus deveres e responsabilidades com a integridade dos dados tratados, permitindo uma melhor transparência com relação às informações que alimentam e retroalimentam dados para as áreas Financeira e de Contabilidade. Sendo bem práticos, mais que uma questão moral, aqui tratamos de tentar garantir que as Americanas sejam compostas por colaboradores “éticos”, sensíveis e conscientes à necessidade de garantirem dados íntegros e confiáveis em todos os processos.
- Gestão de ativos – Dos três itens tratados para este domínio na ISO 27001:2013, darei ênfase aqui ao tratamento de mídias de armazenamento. Independente de nos referirmos a informações faladas, escritas em papel ou digitais, a sua integridade precisa ser garantida por todos os colaboradores envolvidos, minimizando o risco de serem modificadas ao serem passadas do formato físico para o digital, ou mesmo que existam controles paralelos que, no formato físico ou digital, possam acabar burlando os oficiais (geralmente, sistematizados, com travas de acesso e alçadas de aprovação), dos quais devem ser extraídos os dados corretos aos registros contábeis.
- Controle de acesso – Neste domínio, encontramos controles para os Requisitos do negócio: controle de acesso, gerenciamento de acesso do usuário, responsabilidades dos usuários e controle de acesso ao sistema e à aplicação. Portanto, limita o acesso à informação e aos recursos de processamento da informação, assegura acessos a sistemas e serviços, torna os usuários responsáveis pela proteção das suas informações de autenticação e previne o acesso não autorizado aos sistemas e aplicações.
Bem aplicado nas Americanas, estes controles auxiliariam na evidenciação da “má-fé” na geração/adulteração de dados financeiros e contábeis, bem como a devida responsabilização de todos que tenham acesso aos sistemas e aplicações, inviabilizando, ou pelo menos coibindo, fraudes nos dados que compõem os registros contábeis. - Criptografia – Controle que visa assegurar o uso efetivo e adequado da criptografia em prol da confidencialidade, autenticidade e/ou da integridade das informações. Portanto, evitando que informações que alimentam ou que são alimentadas por Gestores Financeiros, sejam modificadas indevidamente, por sujeitos desautorizados.
- Segurança física e do ambiente – Áreas seguras e equipamentos, protegidos de acesso físico não autorizado, danos e interferências nos recursos de processamento das informações e nas informações da organização, impedindo perdas, danos, roubo ou comprometimento de ativos e interrupção das operações da organização. Nada mais é do que a garantia de que as informações financeiras e contábeis estejam sempre protegidas e não possam ser acessadas, muito menos alteradas, por quem não é de direito.
- Segurança nas operações – Este domínio visa permitir a operação segura e correta dos recursos de processamento da informação. Através de registros de eventos, o controle gera evidências capazes de identificar qualquer falha na conciliação ou tentativa de realização de modificações indevidas. Assegurando a integridade dos sistemas operacionais, prevenindo a exploração de vulnerabilidades técnicas e minimizando o impacto das atividades de auditoria nos sistemas operacionais.
Portanto, garantiria às Americanas sistemas monitorados, íntegros e devidamente protegidos, e, portanto, dados fidedignos para realização da conciliação contábil e seus relatórios.
- Segurança nas comunicações – Tem o propósito de assegurar a proteção das informações em redes e os recursos de processamento da informação que as apoiam, mantendo a Segurança da Informação transferida dentro da organização e com quaisquer entidades externas.
- Aquisição, desenvolvimento e manutenção de sistemas – Tão importante quanto ter sistemas é assegurar que a Segurança da Informação é parte integrante de todo o ciclo de vida dos sistemas de informação – ou seja, que a Segurança da Informação está projetada e implementada no ciclo de vida de desenvolvimento dos sistemas de informação, garantindo, destarte, que sistemas legados e de mercado tenham informações integras e o cruzamento de seus dados resultem em dados reais e seguros.
- Conformidade com requisitos legais e contratuais – Evita violação de quaisquer obrigações legais, estatutárias, regulamentares ou contratuais relacionadas à segurança da informação e de quaisquer requisitos de segurança. Este domínio impõe que a segurança da informação esteja implementada e operada segundo as Políticas e Procedimentos da organização.
Conclui-se, apenas algumas análises de controles existentes em framework de Segurança da Informação, que as informações fornecidas à Gestão Financeira e Contabilidade – e destas áreas ao nível estratégico e, finalmente, aos auditores, como última linha de defesa –, teriam sua integridade blindada e devidamente monitoradas, evitando incertezas sobre o que é recebido para análise e deliberação não apenas por meio digital, mas, qualquer outro tipo de fonte, inclusive a verbal. E inconformidades, necessariamente, seriam encontradas, documentadas e escaladas para os responsáveis, viabilizando a tomada de providências – correções imediatas e penalização dos culpados – em tempo hábil.
Nessa senda, os auditores externos poderiam trabalhar com dados exportados de sistemas, apoiados por controles e processos de Segurança da Informação, que minimizariam significativamente as chances de coleta e tratamento de amostras fraudulentas.
*Big Four: Delloitte, Ernst & Young (EY), KPMG e PricewaterhouseCooper (PwC). No caso das americanas estamos nos referindo à PwC, que está sediada em Londre (Inglaterra) e atua no Brasil desde 1915, considerada a maior concorrente da Delloitte (ou seja, ocupa a segunda posição no ranking de melhores empresas de contabilidade do mundo), está presente em 157 países.
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