No mundo dos investimentos, as questões ESG (Ambiental, Social e Governança) têm se tornado cada vez mais importantes. De acordo com a Deloitte, “a pauta ESG é vista como o grande vetor de oportunidades para as empresas, o que revela que as organizações estão dispostas a abordar esse tema não como um entrave regulatório, mas, sim, como algo estratégico na direção da geração de valor para o seu negócio.”
A demanda por ESG e investimento sustentável está sendo impulsionada por fatores como riscos ambientais, aumento das emissões de gases de efeito estufa e desastres naturais, bem como o aumento de investidores socialmente conscientes.
Além disso, as novas gerações, ao integrarem o mercado como funcionários, compradores e investidores, observam as empresas dedicadas à sustentabilidade e as recompensam com lealdade.
De acordo com o Morgan Stanley, 86% da geração do milênio está interessada em investimentos sustentáveis, e uma pesquisa da Sustainable Brands descobriu que os investidores da geração do milênio têm maior probabilidade de protagonismo à sustentabilidade em seu comportamento de consumo. Por sua vez, o número de empresas que relatam esforços de sustentabilidade aumentou, à medida que mais investidores exigem relatórios ESG detalhados. De acordo com o Governance & Accountability Institute, no final do exercício de 2021 apurou-se que 92% das empresas do S&P 500 Index emitiram relatórios de sustentabilidade em 2020.
As categorias de indicadores ESG
Os investidores de hoje demandam ferramentas precisas para quantificar o desempenho ESG e orientar o processo de investimento, especialmente agora que o investimento sustentável é tão valorizado. Para terem sucesso, investidores, empresas e suas partes relacionadas, de modo geral, precisam de orientações claras e alinhadas sobre quais medidas os ajudarão a definir e alcançar resultados ESG eficazes.
Ao definir indicadores ESG, é importante entender as três principais categorias. Cada setor e organização terá métricas diferentes que são relevantes para seus negócios, mas, comumente, incluem:
- Métricas ambientais, incluindo reduções no uso de eletricidade, mudanças no consumo de combustível para veículos da empresa, reduções de emissões de carbono, galões de água economizados e maior desvio de resíduos;
- Métricas sociais, focadas em funcionários e ocupantes, saúde e bem-estar, diversidade e inclusão e gerenciamento da cadeia de suprimentos;
- Métricas de governança, determinadas pela existência de políticas em uma ampla gama de questões, como valores da empresa e planos de resiliência de negócios
Essas métricas ajudam a prever o futuro desempenho financeiro de uma empresa e oferecem às corporações e aos gestores de ativos uma forma de se comunicar com as partes interessadas, demonstrar comprometimento com os princípios fundamentais e avaliar o impacto ambiental e ético.
A materialidade é fundamental à construção dos indicadores ESG a serem monitorados e divulgados ao mercado
Os dados e relatórios ESG estão, gradativamente, passando de voluntários para obrigatórios, à medida que as empresas competem por recursos de investimento com foco em sustentabilidade.
Embora muitas empresas estejam inclinadas a, simplesmente, tratar suas realizações ESG como pauta do time de marketing, é preciso esclarecer que relatórios claros e consistentes garantem, para além da “bela figura”, transparência e responsabilidade – estes, sim, sinais da boa governança.
Agora, qualquer divulgação de dados ESG deve ser precedida, metodologicamente, por uma avaliação, sendo certo que o resultado desta servirá como a principal bússola a medições e divulgações.
Nesse sentido, importa às organizações se apropriarem do conceito e prática da análise de materialidade. Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, em seu guia dedicado às boas práticas ESG, a materialidade consiste em “metodologia utilizada para mapear os principais temas ou questões-chave relevantes para uma organização a partir da escuta de suas partes interessadas e de um processo de avaliação e priorização por parte da organização. No contexto da agenda ESG, o conceito considera a integração e a consideração de temas materiais no âmbito do processo decisório, no direcionamento e no planejamento estratégico de uma organização.”
O Instituto Ethos, no e-book “Indicadores Ethos ASG”, reforça a importância da materialidade ao trata-la como estratégica, “[…] pois são os aspectos nos quais os esforços devem ser focados, devido aos riscos que representam, além de darem clareza quanto às variáveis relevantes para as atividades empresariais. Por isso, a materialidade deve ser um dos eixos principais do modelo de negócios sustentável.”
A materialidade deve ser vista em duas dimensões: financeira – como os aspectos ESG afetam o desempenho financeiro da organização e sua capacidade de gerar valor – e de impacto – como a organização gera valor positivo e negativo para a sociedade e o planeta. Geralmente, é derivada em matriz, a qual permite avaliar cada um dos fatores de impacto à atividade empresarial (“preocupações”, no sentido mais amplo do termo e para fins didáticos), atrelados aos respectivos ambientes e stakeholders, concluindo sobre os planos de ação pertinentes.
A matriz de materialidade se desenvolve mediante levantamento das prioridades à organização e aos stakeholders considerados os aspectos Ambiental, Social e de Governança. Uma vez identificadas, essas prioridades serão classificadas em quadrantes que considerarão, principalmente:
- Questões de alta prioridade aos stakeholders e baixa prioridade à empresa;
- Questões de alta prioridade à empresa e baixa prioridade aos stakeholders;
- Questões de alta prioridade a ambos;
- Questões de baixa prioridade a ambos.
A avaliação matricial conduzirá ao planejamento e execução das ações estrategicamente necessárias à abordagem dos pontos que se mostrarem convergentes em prioridade aos interessados:
Como consequência, as questões-chave apuradas em análise de materialidade e que ensejarão, em resposta, ações estruturadas, devem ser monitoradas e medidas continuamente, visando correções e/ou melhorias – sempre que o contexto do negócio sinalizarem necessário – e divulgadas ao mercado.
À propósito, recente pesquisa realizada pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (RI) aponta que, para 91% dos entrevistados, a padronização de relatórios e de indicadores ESG é um aspecto crítico a ser considerado pelas empresas, no contexto da necessidade de adequação às novas regulamentações: “Esse movimento é de fundamental importância para que as organizações possam mensurar, avaliar e traduzir para o mercado as suas inciativas concretas de governança ambiental, social e corporativa.”
Aprendendo a divulgar ao mercado a agenda ESG e principais indicadores da organização respeitando padrões internacionalmente aceitos
Para apoiar a demanda por estruturas ESG padronizadas e melhor comunicação com os stakeholders, o Fórum Econômico Mundial publicou um conjunto de orientações que as empresas podem usar na elaboração e publicação de relatórios ao mercado, servindo de suporte agendas mais coerentes e abrangentes.
As recomendações de divulgação foram desenvolvidas em colaboração com quatro grandes empresas de contabilidade (Deloitte, EY, KPMG e PwC), bem como representantes de corporações, investidores, normatizadores, organizações não governamentais e internacionais e principais estruturas de relatórios (CDP , o Climate Disclosure Standards Board, e a Global Reporting Initiative), e estão centradas em quatro pilares:
- Princípios de governança: Reflete o propósito, a estratégia e a responsabilidade de uma empresa e inclui critérios que medem o risco e o comportamento ético;
- Planeta: Reflete as dependências e impactos de uma empresa no ambiente natural e inclui métricas como emissões de gases de efeito estufa, proteção da terra e uso da água;
- Pessoas: Representa o patrimônio de uma empresa e seu tratamento aos funcionários e inclui métricas centradas em relatórios de diversidade, diferenças salariais e saúde e segurança;
- Prosperidade: Representa como uma empresa afeta o bem-estar financeiro de sua comunidade e mede métricas como geração de emprego e riqueza, impostos pagos e despesas com pesquisa e desenvolvimento.
A ideia é que as organizações alinhem esses pilares aos seus desempenhos ESG, justificando a construção e priorização de indicadores de forma consistente e facilitando o entendimento em todas as interfaces de sua cadeia de valor.
Outro tópico, não menos importante, a ser enfatizado nos relatórios é o compromisso com ESG, através de:
- Uma política ESG formal;
- Distribuição de responsabilidade relacionada à integração ESG em toda a organização;
- Um código formal de ética nos negócios;
- Participação em causas ambientais, sociais e éticas;
- Diversidade entre funcionários, membros do conselho e administração;
- Composição líquida de funcionários, incluindo as proporções de trabalhadores de meio período e contratados;
- Uma política ambiental formal;
- Estimativa das emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa da organização e contribuição com a pauta climática;
- Divulgação do número de dados e incidentes de segurança cibernética, bem como medidas adotadas para solucionamento e prevenção;
- Divulgação do número de eventos de saúde e segurança, descrevendo as ações implementadas à mitigação de seus riscos.
Preparando-se para um futuro socialmente responsável
A eficiência na eleição das fontes de dados ESG e seu tratamento pode ser melhorada ao fornecer definições assertivas para métricas “ambientais”, “sociais” e de “governança” e levar a interações mais positivas com as partes relacionadas.
Isso exige que as empresas sejam ágeis e adaptáveis, adotem níveis mais altos de resiliência e uma perspectiva global.
Nessa esteira, a agenda ESG, com indicadores bem embasados e monitorados com a devida recorrência e confiabilidade, aprimora a abordagem e gerenciamento de riscos – desde mudanças climáticas até degradação ambiental e extinções em massa até pandemias globais –, defendem a estratégia e capitalizam novas oportunidades de crescimento sustentável de longo prazo.
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