É inegável: cada vez mais, os Conselheiros de Administração, em representação aos interesses do dono do capital e ampliando suas habilidades de ambidestria, estão se engajando, para além das análises econômico-financeiras, em pautas relacionadas a diversidade, desenvolvimento social e inclusão, meio ambiente e inovação.
Isso, convenhamos, não é à toa: conforme já tivemos a chance de tratar anteriormente, aqui no Blog, os Conselheiros de Administração, dadas as suas funções de supervisão, têm se preocupado com a dinamicidade do mundo dos negócios e, consequentemente, a velocidade e assertividade deliberativas que lhes passam a ser demandadas.
Uma explosão de dados e grandes avanços na análise estão desafiando as empresas a reavaliar suas políticas, infraestrutura e recursos em torno do uso de tecnologia, dados e análises (D&A), privacidade, segurança cibernética e relatórios financeiros, a fim de aprimorarem, em qualidade e asseguração, seus processos decisórios.
Muito se fala sobre a necessidade de os Diretores Executivos serem conscientes e, até mesmo, proativos em relação ao big data, mas, a pergunta que não pode sair de sobre a mesa é: Como os Conselheiros de Administração podem ajudar a gestão através de Data Analysis?
Noutras palavras, é dizer: Como os Conselheiros de Administração podem, através de big data, melhorar o seu desempenho em:
– Análise crítica de contexto organizacional, seus desafios e oportunidades;
– Encomenda de estratégia e resultados;
– Monitoramento da gestão;
– Ajudar a garantir que a empresa obtenha os insights apropriados de dados e análises, tomando as precauções necessárias para proteger a si e seus stakeholders – internos e externos;
– Supervisão das áreas de Gestão de Riscos, Controles Internos e Compliance; e
– Exercer seus próprios deveres fiduciários, protegendo-se de responsabilização dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, em qualquer esfera ou instância.
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Por que Big Data interessa aos Conselheiros de Administração
No nível estratégico, os Conselheiros de Administração precisam garantir que o C-Level entenda não apenas os benefícios, mas, também, os desafios do big data.
Para isso, devem garantir que a administração se esforce para encontrar maneiras de fazer com que aqueles com experiência e julgamento no assunto trabalhem em conjunto com os cientistas de dados especializados no desenvolvimento de algoritmos.
Se a direção do Conselho de Administração for necessária para que a empresa se mova de forma mais deliberada e eficaz no potencial do big data, os Diretores podem precisar ajudar a definir o tempo necessário a planejar, estruturar as bases de dados e fluxos de cruzamento para extração de relatórios de análise, testar e, finalmente, executar a Data Analysis.
Agora, detalhe importantíssimo, que precisa ser ponderado de antemão: é preciso tempo, pessoas e dinheiro para colocar a data warehouse de uma empresa em ordem, sem qualquer ROI real e visível de curto prazo. Esses três itens formam a base essencial, e os Conselheiros precisam estar atentos à necessidade de fornecer à Diretoria Executiva e aos demais níveis da gestão os recursos e tempo suficientes para que os esforços de implementação e execução sejam empreendidos e bem-sucedidos.
E isso porque, para tirarem o máximo proveito dessas palavras da moda e de seus recursos, é fundamental que as unidades de negócios e os parceiros da cadeia de valor façam o mapeamento das principais decisões tomadas no dia a dia, com impacto estratégico, tático e operacional, e de quais os dados e informações que estão sendo utilizados como embasamento, visando a que possam ser melhoradas com big data e Data Analysis.
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Os Conselheiros de Administração devem participar da estratégia de dados
Os Conselheiros de Administração, entendendo quais dados são coletados, como são usados, e quem supervisiona esse esforço, podem demandar de Diretores e Gerentes a análise consistente e recorrente desses dados, especialmente em áreas onde a empresa tem as mais altas responsabilidades estatutárias e fiduciárias, como forma de recrudescer o sistema de controles internos e, consequentemente, a gestão de riscos.
Nesse sentido, os principais pontos de atenção sob observância dos Conselheiros de Administração em relação a big data e Data Analysis, e que devem ser perguntados à gestão como ponto de partida ao encaminhamento das implementações mais relevantes são:
• Os desafios de negócios atuais e futuros estão efetivamente alinhados com os dados e as tecnologias corretas?
• A administração avaliou a infraestrutura de dados e os dados disponíveis para impulsionar a estratégia digital? Quem é responsável pelas decisões de dados e os riscos associados?
• A administração avaliou a capacidade da infraestrutura de TI para dar suporte a essas tecnologias avançadas?
• Qual é o conjunto de habilidades da força de trabalho atual? Onde precisa estar?
• Foi implantada uma estrutura de governança apropriada, incluindo o Conselho e seus comitês, para gerenciar tal inovação e mudança?
• Qual a jornada a ser percorrida para obtermos um esforço coordenado entre as áreas de finanças, auditoria interna, operações e controladoria, na utilização de dados e análises avançadas nos próximos anos? A auditoria externa terá acesso? Como?
• Como a gestão monitorará esta transformação em relação a custos, qualidade, talentos, controles, indicadores-chave de desempenho etc.? Quais recursos, tecnologias e habilidades serão necessários? Quais controles estão em vigor?
• Como os dados serão protegidos? A empresa está gerenciando/usando os dados de uma forma que está de acordo com as expectativas dos clientes, parceiros e, em se tratando de dados pessoais, da ANPD – Autoridade Nacional de Proteção de Dados?
• As políticas e processos em torno disso são claramente articulados e entendidos, tanto interna quanto externamente?
Como forma de melhor organizar, e mesmo centralizar a coleta de dados, construção de adequada arquitetura e geração de análises ágeis e inteligentes, algumas empresas designam um Diretor ou Gerente; outros, têm uma função de Encarregado de D&A (Data & Analytics) funcionando junto à área de TI ou, mesmo ao CFO – neste cenário, não para restringir as análises aos números do negócio, mas, porque o CFO é, por método e melhor prática de mercado, guardião dos controles internos da organização e, portanto, principal interessado em registros de atividades e integridade dos reportes feitos de uma área a outra dentro da estrutura organizacional – ; e outros, por fim, calçados nas áreas de Compliance e Sustentabilidade.
Inclusive, não é custoso compartilhar que em nossos projetos de consultoria, por exemplo, quando nos deparamos com requisições de implementação de big data e Data Analysis em benefício de boards executivos e não executivos, costumamos trabalhar com Diretores e Gerentes a combinação de análise avançada de dados com análise legal tradicional, para extrair insights importantes sobre possíveis questões legais e de Compliance, tais quais:
– A detecção de violações éticas e legais, em nível nacional e internacional, incluindo, mas não se limitando, a fraudes, descumprimentos de normas trabalhistas e danos ambientais;
– Triagem de produtos e serviços, para que estejam aderentes às normas regulatórias no Brasil e no Exterior;
– Monitoramento de comportamento antitruste;
– Fixação de preços e cartel em potencial etc.
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Outra postura esperada dos Conselheiros de Administração frente ao big data é serem menos reativos e mais proativos, exigindo que dados e análises sejam uma parte maior de todas as reuniões do Conselho.
Nessa linha, mitigam-se os riscos de informações sem lastro, incompletas ou equivocadas, substituindo-se registros humanos e manuais, documentados em texto e/ou planilhas de Excel básicos e construídos olhando ao passado, por análises preditivas, que empregam ciência de dados para fazer cálculos estatisticamente sólidos que, sem desprezar completamente o histórico da empresa, projetam o que o futuro lhe reserva.
Em linhas gerais, e concluindo a reflexão a que nos propusemos fazer aqui, olhar para o futuro viabiliza, de um lado, o planejamento de estratégias com maiores chances de êxito, e, de outro lado, a antecipação de preocupações as quais derivam ações preventivas e/ou de contingenciamento – justamente para que as estratégias estejam seguras e bem defendidas enquanto colocadas em prática.
É dessa forma, portanto, que Conselheiros de Administração, aliados à gestão, podem usar o big data para bem orientar a empresa ao futuro.
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