A aderência do Compliance em Empresas Familiares do Agronegócio no Brasil vem ganhando cada vez mais espaço, uma vez que o setor tem apresentado nos últimos anos um forte e expressivo crescimento, formando um novo perfil de organizações deste nicho, trazendo novos desafios para a área.
O fortalecimento do agro trouxe uma nova visão sob o ponto de vista ambiental, iniciando uma nova era de controle e gestão dos impactos ambientais negativos que as atividades desenvolvidas por este setor podem causar gerando assim novas leis e diretrizes para a atuação deste tipo de empresa.
Além disso, o mercado tornou-se mais competitivo após a implementação de tecnologias em campo, que permitem maior controle de pragas, reduz o número de acidentes, possibilita o controle de qualidade e acelera todo o processo produtivo.
Esta nova realidade vem acontecendo concomitantemente aos processos de sucessão, pois, boa parte das grandes empresas do agro atualmente, ainda são comandadas pelos seus idealizadores, que estão na faixa dos 75 aos 80 anos, demandando por uma sólida estrutura de Governança, para que as empresas consigam conciliar os seus processos de nova gerência e adequação às demandas do mercado, sem perder sua produtividade, assegurando a sua sustentabilidade. É exatamente aqui, por esta necessidade, que ganhou luz a importância da implementação Sistema de Compliance em Empresas Familiares do Agronegócio e sua Contribuição na Sucessão do Negócio.
Os Desafios do Agronegócio
Conforme visto em nosso artigo “Governança Corporativa no Plano de Sucessão em Empresas Familiares do Agro”, de 18.11.2021, são inúmeros os desafios encontrados pelos fundadores das organizações deste ramo, entre eles a descentralização de poder, a diferença cultural entre gerações e até mesmo a resistência à aderência de novas tecnologias que possibilitam uma melhoria significativa nos resultados produtivos e consequentemente financeiros.
Vimos também neste referido artigo, que ainda que pareça difícil compreender, os fundadores das empresas do agro comumente são os grandes líderes e chefes familiares, que por sua robustez e força de trabalho desenvolvido durante anos terem sido sua motivação para viver, aceitar a sucessão, significa dizer que seu trabalho encerrou, criando uma grande resistência para “passar o bastão”, e é aqui que verificamos a importância do papel do Compliance Officer no planejamento da sucessão em empresas familiares do agro.
Os Benefícios de um Sistema de Compliance em Empresas Familiares do Agronegócio
Já sabemos que estar em Compliance e procurar pela melhoria contínua, gera grande credibilidade diante do mercado, seja junto a clientes, fornecedores e parceiros, quanto a investidores e colaboradores, uma vez que a gestão da conformidade possibilita a mitigação de riscos que poderiam afetar a lucratividade e imagem do negócio, impactando negativamente na sustentabilidade do mesmo.
Diante disso, para que possamos elucidar quanto às razões para se investir na implementação de um Sistema de Compliance na Sucessão em Empresas Familiares do Agronegócio, trouxemos aqui uma série de benefícios que esta ferramenta traz.
Antes, porém, é importante ressaltar que estruturar uma nova governança, moderna e por vezes arrojada, de uma corporação histórica, não significa absolutamente abandonar os valores implantados pela primeira geração. Pelo contrário, a ferramenta irá fortalecer e assegurar a sua continuidade, porém se adequando aos padrões e exigências do mercado atual, tornando a organização mais competitiva e assegurando a sua sustentabilidade ao longo de todas as sucessões planejadas.
Esclarecido isso, vamos aos benefícios que o Sistema de Compliance pode conferir:
- A atuação independente de um Compliance Officer possibilita equilibrar os interesses familiares, societários e administrativos e trazer vantagens competitivas para os negócios em longo prazo. As discussões que continham temas familiares e pessoais caem por terra, quando se conta com este profissional, extinguindo a parcialidade na tomada de decisões, que poderia comprometer a sustentabilidade do negócio diante dos possíveis conflitos de interesses que surgiriam;
- A estrutura do Sistema de Compliance permite que sejam traçados objetivos práticos a serem alcançados, medidos através de indicadores, possibilitando a mensuração efetiva dos resultados, gerando mais clareza quanto às expectativas e possibilidades do negócio a curto, médio e longo prazo. Tal transparência agrega valor à empresa e aumenta o número de investidores interessados no business, elevando as possibilidades de crescimento do negócio;
- A estruturação de cargos e responsabilidades de forma documentada, principalmente no âmbito familiar, organiza a empresa e assegura melhores resultados, evitando eventuais disputas de poder e intromissões desnecessárias que gerariam a quebra da produtividade e o desvio do foco no desenvolvimento e melhoria contínuos;
- O Compliance Officer tem como papel fundamental o apontamento para a Alta Direção da empresa sobre quais os critérios Ambientais, Sociais e de Governança precisam ser atingidos e quais as ferramentas poderão ser utilizadas para tal (processos e controles), mitigando possíveis multas, acidentes ambientais e até mesmo impedimentos de exercer as atividades;
- O Sistema de Compliance também filtra as parcerias, de modo que se estabeleça vínculo somente com empresas e/ou investidores que estejam comprometidos com os mesmos princípios e valores para com o meio ambiente, ética e transparência, evitando que riscos de impactos negativos na imagem e até mesmo de infrações ambientais que possam por ocasião prejudicar o negócio;
- Em momentos de instabilidade econômica e crises mercadológicas, por exemplo, nada pode ser mais saudável para um negócio do que ter sócios, acionistas e equipes em sintonia e alinhados em prol das melhores decisões de negócio. Portanto, a governança é um instrumento de profissionalização da empresa familiar com foco no crescimento sustentável da mesma.
Como implementar um Sistema de Compliance em Empresas do Agronegócio e sua contribuição na Sucessão do Negócio
Tendo em vista que por muitas vezes em empresas familiares é comum se confundirem interesses pessoais e de negócio na tomada de decisões e que o controle do cumprimento das atividades e responsabilidades torna-se mais delicado quando se trata de verificar a produtividade e/ou regularidade de um parente, implementar o Compliance permite que todas estas questões, e outras mais, sejam devidamente mitigadas, refletindo positivamente diretamente nos resultados e credibilidade da organização.
O ponto de partida é a estruturação de um Comitê de Compliance, responsável pelo desenvolvimento do sistema. Tal grupo deve assegurar cumprimento de atos, regulamentos, normas e leis internas e externas que englobam o setor. Além disso, o time precisa contar com a devida independência em sua atuação, assim assegura-se um processo ético, transparente e livre de conflitos de interesses, por isso, o ideal é que o comitê não esteja diretamente ligado a nenhum diretor da empresa, garantindo a lisura do sistema.
Estruturado o comitê é necessário que se verifique o desenho, ou seja, o fluxograma de processos da organização e compreensão das atividades desenvolvidas por cada um deles, ou seja, os procedimentos. Estes, por sua vez, devem contar com manuais de instrução para seu desenvolvimento, assegurando a segurança dos colaboradores que os executam, a mitigação aos impactos ao meio ambiente e a qualidade e a produtividade eficaz. Além disso, todos os procedimentos realizados devem ser devidamente documentados, viabilizando a rastreabilidade dos mesmos.
Desenhados os processos e seus respectivos procedimentos, inicia-se a identificação dos riscos aos quais a organização está exposta e como é possível mitigar e/ou contingenciar cada um deles. Este processo de riscos deve ser desenvolvido junto aos times, assegurando uma identificação condizente à realidade e uma estruturação de controles exequíveis também.
Particularmente o agronegócio sendo uma atividade de forte e direto impacto no ambiente em que vivemos, mais do que qualquer outro tipo de empresa, demanda por um canal direto entre os colaboradores e a comunidade em geral com a organização. Tal necessidade pode, e deve ser suprida através de um canal de comunicação, ou canal de denúncias e reportes, pois essa ferramenta viabilizará o relato de irregularidades e/ou eventos de impacto negativo ambientais, demonstrando o compromisso da empresa com a ética e conformidade às legislações e políticas do setor.
Ainda na estrutura do Sistema de Compliance, cabe o planejamento das auditorias internas e externas, que contribuem para o controle de sua eficácia e sustentabilidade, pois é a partir delas que se verifica o que está e não está sendo executado em conformidade com a lei e diretrizes internas da organização, oferecendo ao final, um plano de ações que além de corrigir corrobora para a melhoria contínua do negócio.
Além disso, as auditorias externas possibilitam a fiscalização de terceiros, checando as pessoas que não atuam dentro da empresa, mas se relacionam de alguma forma com ela, como fornecedores, transportadoras, produtores, etc. O resultado, é maior segurança para a emprega e para os seus relacionamentos, transmitindo mais confiança e credibilidade perante os stakeholders.
Observando a estrutura descrita acima, é possível verificar que a partir dela, torna-se viável o desenho do plano de sucessão do negócio, uma vez que enquanto a diretoria inicia a transferência das responsabilidades para o novo líder, todo o restante continua em pleno e perfeito funcionamento, sem que os processos fiquem sem um “dono” ou um gestor, pois toda a estrutura já está sólida e bem delineada.
O Selo Agro+Integridade
Outro motivo para aderir ao Compliance, é que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento instituiu a portaria 2.462/17, por meio da qual instituiu o Selo Agro + Integridade, como forma de certificar as empresas que atendem as normas de integridade do setor de agronegócio.
Dentro dos requisitos que devem ser cumpridos pelas empresas, estão boas práticas relacionadas à gestão, sustentabilidade e ética, programas de Compliance com gerenciamento de riscos e auditorias internas, a fim de obter resultados positivos na sua atividade.
Diante do conteúdo aqui exposto, é possível notar que a implementação de um Sistema de Compliance no Agronegócio é primordial para sua sustentabilidade, levando em conta toda a exigência atual de regularidade, conformidade e gerenciamento dos processos, mitigando riscos e prejuízos.
Para elaborar e executar esta ferramenta, a Studio Estratégia conta com profissionais de diversos segmentos, capazes de assegurar os melhores resultados.