Turnover é um termo usado no mundo corporativo para métricas de desligamento de funcionários, tem muito a ver com o índice na área de gestão que quantifica o número de pessoas que sai comparado ao número que entra em determinado período – isto é, em palavras simples, seria a taxa de rotatividade da empresa.
Em um ano em que vídeos sobre quiet quitting viralizaram em redes sociais, apresentando-se como um movimento mundial, em um ano em que até mesmo estagiários de grandes escritórios cometem suicídio em decorrência da cobrança exagerada de trabalho, cuidar da saúde dos colaboradores se torna essencial para o negócio e para a redução de turnovers.
A cultura do “entregue mais do que o necessário” ou “trabalhe enquanto os outros dormem” já está mudando, muito em função das consequências danosas ao crescimento da organização e ao prejuízo que causa em números.
Quando se coloca na balança que a falta de saúde do colaborador impacta ao final em previsões orçamentárias deficientes, é porque algo está muito errado!
Há empresas que já no recrutamento mostram o quanto valorizam o trabalho além do horário, ou aquele funcionário que trabalha mesmo quando está afastado por doença.
A frase “atestado aqui, só se for de óbito”, muitas vezes dita em tom de brincadeira, acaba por corromper o próprio balanço mensal quando se pensa nas consequências desta cultura organizacional.
A Forbes publicou nesta semana matéria sobre a ideia de felicidade corporativa, e a intencionalidade das empresas em assumir responsabilidade sobre o bem-estar de seus funcionários para além da compensação financeira e dos benefícios.
A saúde mental, portanto, é algo fundamental
Quando se pensa em cuidar da saúde é comum associar esse cuidado ao corpo, hábitos alimentares ou praticar exercícios, mas dificilmente as pessoas remetem o cuidado com a saúde mental, mesmo com o aumento significativo de males como transtornos de ansiedade, síndromes como burnout e doenças como a depressão.
No momento em que uma empresa valoriza o colaborador que presta seus serviços até mesmo doente evidencia uma cultura na equipe de que se quer empregados fortes e comprometidos, que trabalhem até mesmo quando estão debilitados.
Neste contexto, sobrevém um estudo finlandês comentado mundialmente no início do semestre, apresentado na Sociedade Europeia de Cardiologia, no sentido de que aqueles funcionários que têm menos de 3 semanas de férias por ano possuem propensão à morte precoce.
Inegável, portanto, que a sobrecarga e o desgaste não são exatamente uma forma inteligente de reduzir custos. Quando a gestão de uma empresa só pensa em aumentar lucro e reduzir custos, a produtividade de cada funcionário é colocada à prova, trazendo junto o desgaste físico e emocional.
Não é por acaso que o legislador, há décadas, introduziu nos direitos trabalhistas a obrigatoriedade de descanso. Fixou jornadas máximas, intervalos obrigatórios, além de remuneração diferenciada, multas e indenizações pela não observância dos limites.
A CLT não fala apenas de férias, veja que até mesmo dentro de um dia de trabalho há previsão de intervalo.
Esse intervalo é de suma importância para a saúde do empregado, para que tenha regularidade de refeições, quebrando até mesmo o ritmo de trabalho e preparando o organismo para um “segundo tempo” no mesmo dia.
Isso porque, se não der descansos, o corpo se “acostuma” com a tensão constante, liberando descargas de adrenalina e aumento do nível de hormônios como o cortisol para mantê-lo em funcionamento. E em médio e longo prazo já reduz o sistema imunológico e acaba por prejudicar o mesmo trabalho a que se dedicou com tamanho afinco.
Mas conceder folgas não resolve o problema, a saúde mental depende muito do meio ambiente corporativo e de quanto a empresa é aberta ao diálogo e à convivência da equipe.
Uma reportagem divulgada nos Estados Unidos mostrou que mais da metade dos jovens trabalhadores não relaxam em dias de folga com medo de uma avaliação negativa. Isso mesmo: MAIS DA METADE!
Portanto, a cultura é ainda a de que se faça o trabalho além do trabalho, a de que não se deve ter folga.
IMPACTOS NEGATIVOS AOS EMPREGADORES
A história mostra que os impactos são implacáveis, a iniciar pelo custo disso dentro da empresa!
- Prejuízos financeiros:
Trabalhar em dias de descanso, e trabalhar mesmo que se esteja doente gera ansiedade, intolerância, fadiga, queda de habilidades cognitivas, bloqueios e improdutividade.
Evidente, por consequência, que um colaborador com esses sintomas leve mais tempo para realização de cada tarefa. O trabalho acaba não sendo tão satisfatório, e o resultado implica na produtividade do setor, ou mesmo da empresa como um todo.
Portanto, o resultado na produção já é um primeiro indício de prejuízos.
Não bastasse, tem-se ainda o custo alto das horas extras, custo alto de verbas rescisórias e novas contratações, sem mencionar ainda que ausências precisam ser cobertas por substitutos, o que acaba ficando mais caro do que a concessão de folgas e descanso aos funcionários antes de “virar uma bola de neve”.
O turnover afeta diretamente uma empresa e são muitos os motivos, a começar com o fato de que muitas das demissões são “evitáveis” e que uma retenção de funcionários poderia gerar economia aos cofres da organização.
E mais, ainda que não haja turnover, mas se entenda que é “só afastar o funcionário doente”, não há um benefício, pois caso um colaborador seja afastado por doença ocupacional, o empregador se mantém depositando FGTS durante todo o período do afastamento e terá ainda os custos de mantê-lo por mais 1 ano após a liberação do INSS pela garantia emprego.
Os prejuízos não param por aí: a gestão incorreta eleva não só na folha de pagamento do dia-a-dia, como também a um possível custo judicial, por demandas que decorrem de uma elevação do turnover.
- Relações interpessoais
A cultura de se trabalhar mais do que se espera leva a problemas ainda nas relações interpessoais de todo um setor.
Pessoas exaustas ficam irritadiças e intolerantes, refletindo na equipe e no engajamento.
E, por fim, ter de forma recorrente um funcionário novo significa que cada um vai levar um tempo até aprender uma função ou entender como as coisas funcionam naquela empresa, além de tantos treinamentos. E isso, sem dúvidas, afeta a produtividade e os resultados da própria empresa.
TENDÊNCIA DAS GRANDES ORGANIZAÇÕES
Mente em equilíbrio reflete na eficiência, em dar a melhor solução a cada problema, em pensar rápido, em colocar a empresa em uma posição diferenciada.
Um quadro de funcionários com redução da rotatividade gera uma equipe mais engajada, capaz de refletir em melhor desempenho, com a satisfação profissional dos colaboradores e até do desempenho da empresa no mercado.
Como uma empresa se coloca no mercado é uma grande sacada, e colaboradores que demonstram o sucesso da organização elevam até mesmo o ranking de produtividade. Uma coisa leva a outra!
Um dos maiores problemas das organizações está em não priorizar o trabalho motivacional com seus funcionários. Isso aumenta a produtividade e a satisfação do profissional com a empresa. Oferecer premiações, novos benefícios, plano de carreira e bonificações hoje são investimentos.
Implementar um programa de compliance trabalhista efetivo é uma sugestão de grande valia para melhorar performance empresarial, com programas de integridade, ética e treinamento, informando os princípios da empresa e aonde querem chegar.
Quando a cultura da empresa oprime mais do que estimula, o colaborador se lança no mercado à procura de novas oportunidades. Manter um funcionário engajado, ser uma organização culturalmente sólida e bem definida é fundamental.
Um dos maiores motivos de turnover é a falta de reconhecimento, e um plano de carreira ajuda a mudar esse cenário. Aumento de salário e promoções são razões que mantêm os funcionários satisfeitos.
Descanso, ter o repouso e cumprir orientações médicas quando doente, propiciar convívio familiar, momentos de lazer, ser (e ter) pais presentes, isso tudo constrói dignidade e prosperidade.
Por fim, uma passagem escrita por Adam Grant, professor e escritor, reconhecido como um dos estudiosos mais influentes na área de recursos humanos, que cai neste texto como uma luva.
“Trabalhar quando você está doente não é um símbolo de compromisso. É um sintoma de uma cultura doente.
Em locais de trabalho tóxicos, o descanso é um sinal de fraqueza. Espera-se que você se sacrifique pelo seu trabalho.
Em culturas saudáveis, o descanso é uma fonte de força. O bem-estar é vital para fazer seu trabalho”.[1]
[1] Adam Grant é ph.D. em Psicologia Organizacional pela Universidade de Michigan e bacharelado pela Universidade Harvard, e entre seus clientes de consultorias e palestras estão Google, Merck, Goldman Sachs, IBM, Disney Pixar, Fórum Econômico Mundial e ONU.
6 respostas
Em 2008 trabalhei em um hotel que dava muitos benefícios e um salário acima da média. Tínhamos, ticket car, refeitório orgânico, vale odontológico, peru de natal e por ai vai.
Mesmo sendo um hotel com instalações luxuosas, o feedback dos clientes era sempre sobre o tratamento impecável que recebiam de todos os funcionários, desde o jardineiro até o gerente do SPA. Não é a toa que quase 15 anos depois tenho amigos que ainda trabalham lá.