O que você já tem, mas ainda não percebeu como usar.
Imagine uma pequena livraria online o ano é 1995, que quase faliu por não conseguir competir com grandes redes, e depois de algumas mudanças em seu portfólio, observou-se que ainda havia outra coisas que podiam ser vendidas, mas a loja era pequena sem abrangência tanto de produtos oferecidos quanto na capacidade de distribuição. O que você teria feito?
Veja o que o dono decidiu. Ele se uniu a pequenos vendedores independentes e transformou sua loja em um grande shopping digital. Hoje, essa empresa não só vende livros, mas praticamente tudo que você pode imaginar — sem precisar manter estoque próprio. E é possível que você seja cliente deles.
Sim, estou falando da Amazon.
Mas veja: o que salvou esse negócio não foi uma tecnologia de ponta, mas uma decisão estratégica baseada em parceria.
Essa é a essência deste artigo.
O que está invisível, mas já é seu
A gente passa tanto tempo buscando inovação fora, que esquece de olhar para dentro. Inovar não é (só) lançar algo novo — é olhar com novas perguntas para o que já existe.
Você já tem pessoas, dados, reuniões, reclamações, talvez até parcerias mal aproveitadas. A virada de chave começa quando você pergunta: Com quem, dentro ou fora, posso fazer diferente o que hoje está me custando tempo, energia ou dinheiro?
O que é inovar de verdade?
Inovação e Renovação: quando um “re” faz toda a diferença.
Falar em inovação costuma provocar duas reações imediatas:
- A sensação de que é algo caro.
- A crença de que só grandes empresas conseguem fazer.
Mas a verdade é outra: inovar é resolver problemas de forma diferente e mais eficiente. E renovar é repaginar o que já existe com mais inteligência e menos esforço.
Para inovar ou renovar de forma estratégica, é preciso olhar para um ponto central: o processo.
Todo negócio, por menor que seja, tem um processo — e é nele que estão escondidas as reais oportunidades de transformação.
Nos exemplos citados neste artigo, as mudanças só foram bem-sucedidas porque partiram da observação prática do funcionamento do negócio, e não de suposições.
Por isso, antes de querer mudar tudo, olhe para o que já acontece na rotina. O que funciona? O que trava? O que pode ser mais leve?
Abaixo, uma estrutura simples para guiar a inovação e a renovação com propósito:
- (Re)modelar estruturas ou serviços
- (Re)duzir custos sem perder valor
- (Re)solver problemas reais do cliente ou da equipe
- (Re)definir a experiência de quem consome ou executa
- (Re)organizar recursos e pessoas com clareza
- (Re)encantar o cliente com simplicidade e cuidado
Inovar não é começar do zero. É enxergar com profundidade o que já existe — e fazer melhor, com inteligência, estratégia e intenção.
O que o mercado revela sobre a capacidade de inovar
Segundo dados do IBGE em parceria com o Sebrae, cerca de 60% das empresas brasileiras reconhecem que a inovação é essencial para se manter competitivas. No entanto, apenas 35% afirmam ter estratégias consistentes nesse sentido.
O principal obstáculo? Falta de tempo, recursos e direcionamento.
Ou seja, a intenção existe — mas a estrutura ainda não acompanha.
Outras análises de mercado apontam que apenas entre 10% e 15% dos empreendedores realmente demonstram comportamentos inovadores no dia a dia. O restante até deseja inovar, mas esbarra na dificuldade de transformar essa vontade em prática.
Exercício de percepção estratégica
Ligue o desafio à solução estratégica.
Vamos lá, leia cada desafio real e ligue com a palavra-chave que pode representar uma solução. Não existe resposta certa — existe o que faz sentido no seu contexto.
Quais frases abaixo se conectam com os seus desafios diários?
O que elas te dizem sobre onde você pode agir de forma mais inteligente?
- Processos lentos, travados ou repetitivos
- Falta de integração entre setores
- Recursos subutilizados
- Equipes sobrecarregadas tentando fazer tudo sozinhas
- Perda de ideias e insights por falta de escuta
- Clientes que improvisam o uso do seu serviço
- Atualizações ignoradas que geram erros e multas
- Dificuldade de encontrar fontes confiáveis para seguir regras
- Riscos por depender de uma única fonte de receita
Agora relacione essas situações com a palavra -chave e sua respectiva pergunta-chave.
Letra | Palavras-chave | Perguntas- chave |
A | 1. Atualização constante | O que está parado no seu processo e deveria ser revisado periodicamente? |
B | 2. Normas e regras | Sua equipe sabe exatamente quais regras seguir? E como acompanhar mudanças? |
C | 3. Erros silenciosos | O que parece estar “funcionando”, mas está cheio de falhas invisíveis? |
D | 4. Multas evitáveis | Quais descuidos ou atrasos podem estar custando caro? |
E | 5. Fontes confiáveis | Onde você busca referência para tomar decisões técnicas ou regulatórias? |
F | 6. Rede de troca | Quem, dentro ou fora da sua equipe, poderia contribuir com soluções ou aprendizados? |
G | 7. Parcerias | Existe alguém ou alguma empresa que poderia facilitar processos que hoje são pesados? |
H | 8. Alertas automáticos | O que poderia ser automatizado para reduzir riscos ou retrabalho? |
I | 9. Tempo perdido | Quais atividades hoje consomem energia e tempo, mas não entregam valor? |
J | 10. Especialistas | Em quais áreas vale a pena ter apoio técnico ao invés de tentar resolver sozinho? |
- Exemplo:
Desafio 8 (Dificuldade com regras) → Palavra E (Fontes confiáveis)
Inovação na prática
Para entender como a inovação se manifesta na prática, vale olhar para exemplos que talvez você já conheça — mas sob uma nova perspectiva.
São soluções que nasceram da necessidade de resolver problemas reais e comuns.
Veja a seguir como empresas — e até decisões individuais — trouxeram inovação com estratégia e propósito.
Bombom Serenata de Amor (Garoto)
O bombom foi remodelado com novo recheio e embalagem. A inovação não foi só visual — houve redução de custos e manutenção da aceitação do público.
Pix (Banco Central)
Mais do que um sistema de pagamento, o Pix resolveu o problema da burocracia e redefiniu a forma como lidamos com dinheiro no dia a dia, abrindo oportunidades para pequenos negócios.
Gather e apps de produtividade remota
Ferramentas como o Gather, Trello, Clockify, Toggl e RescueTime ajudam equipes remotas a se organizarem, colaborarem e medirem sua performance. Muitas são de baixo custo ou gratuitas. Inovar, nesse caso, é repensar o uso do tempo — usando o que já está disponível no mercado.
Uber
Reorganizou o setor de transporte urbano. Inovou não só no serviço, mas no modelo de parceria com motoristas, permitindo geração de renda com flexibilidade.
Waze
Nasceu da necessidade de evitar o trânsito — mas sua força vem da parceria com os próprios usuários, que alimentam o sistema. A inovação está na aliança: sem a colaboração, o app não funciona.
Minha experiência pessoal(autora do artigo)
Sublocação de espaço
Na pandemia, percebi que o espaço físico do escritório ficou ocioso com o home office. Sugeri a sublocação parcial — criando uma nova fonte de receita sem investimento, apenas com (re)organização de um recurso que já existia.
Parceria de posicionamento
Para aumentar meu alcance, entrei em um grupo de networking com o público ideal que eu buscava. Essa aliança ampliou minha presença e (re)estruturou meu processo de aquisição de clientes sem alterar meu serviço principal.
Colaboração Estratégica: o poder de crescer junto
Nos exemplos anteriores pelo menos 3 deles apresentam um formato colaborativo como determinante para seu funcionamento.
Parcerias bem escolhidas e colaborações genuínas não são apenas apoio externo — são formas de enxergar recursos que antes estavam invisíveis, acessar novos públicos e organizar o negócio de forma mais leve e eficiente.
Muitas vezes a transformação de um negócio é saber ‘’com quem caminhar’’.
Abaixo, alguns desses exemplos de fazer alianças apenas se conectando melhor com o que já existia:
Uber
Reorganizou o setor de transporte urbano ao criar um modelo de parceria descentralizada com motoristas. A empresa não precisou ter frota própria, e os motoristas puderam gerar renda com flexibilidade. A inovação está no modelo: cada parceiro é peça-chave da entrega final. Cerca de 32 milhões de viagens são realizadas diariamente em todo o mundo.
Waze
A solução nasceu da dor comum de evitar o trânsito, mas só funciona porque os próprios usuários colaboram em tempo real com informações. A força da inovação está na inteligência coletiva: sem os parceiros (usuários), o sistema simplesmente não existe. Atualmente o app tem mais de 170 milhões de usuários.
Minha experiência pessoal – (autora)
Sublocação de espaço
Na pandemia, com o escritório vazio, reorganizei o espaço para sublocação parcial. Sem investimento adicional, criei uma nova fonte de receita com o que já existia. Uma decisão simples, mas com efeito direto no caixa e no aproveitamento do recurso.
Parceria de posicionamento
Entrei para um grupo de networking focado no público ideal que eu buscava. Essa aliança me permitiu aumentar o alcance e a visibilidade da minha oferta, sem alterar o serviço principal. A parceria reestruturou minha forma de adquirir clientes — mais fluida, menos solitária. No ano de 2024 multipliquei 8 vezes o valor de afiliação nesse grupo, ou seja, tive um retorno de 800% do valor investido.
Como aplicar esse olhar no seu cenário
Antes de pedir ideias, faça perguntas com sua equipe.
Faça as perguntas certas – use essa técnica
Muitas vezes, quando tentamos inovar, a primeira barreira é justamente tentar achar a ideia perfeita. O que está faltando? A pergunta certa.
Antes de buscar respostas, é preciso descobrir o que de fato precisa ser perguntado.
É aí que entra o question storming — uma técnica simples, mas poderosa, que substitui a tradicional “tempestade de ideias” por uma “tempestade de perguntas”.
Em vez de reunir o time para dar sugestões, você reúne todos para levantar questões incômodas, provocativas ou até improváveis.
Essa mudança de foco ativa a escuta, estimula a criatividade e abre novas rotas mentais.
Afinal, as inovações mais relevantes geralmente não nascem de uma ideia genial, mas de uma boa pergunta feita na hora certa.
Siga o passo a passo para usar essa técnica:
Faça diferente com o que você já tem
Se chegou até aqui, já percebeu: inovar não é privilégio de grandes empresas — é uma atitude de quem presta atenção.
Não se trata de criar algo do zero, mas de reorganizar o que já existe com mais intenção, menos desperdício e mais parceria.
Pare por um instante e reflita:
- O que está te dando trabalho desnecessário?
- Que processo poderia ser mais leve com apoio?
- Que ideia foi deixada de lado por falta de conexão?
Inovar é usar o conhecido com um novo propósito.
Esperamos que esse conteúdo te ajude a repensar sua rotina, seus projetos e suas escolhas com mais estratégia e inteligência.
Fonte de pesquisa:
Acessado em 14 de junho de 2025
DYER, Jeff; GREGERSEN, Hal; CHRISTENSEN, Clayton M. O DNA do Inovador: Dominando as 5 habilidades dos inovadores de ruptura. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.