A atualização da ISO 37001, publicada oficialmente em 2025, marca um novo capítulo na governança corporativa e no combate ao suborno. Agora, a certificação não exige apenas um sistema de gestão documental: requer liderança ativa, cultura ética institucionalizada e controles proporcionalmente robustos.
Com uma abordagem mais integrada e estratégica, a nova versão traz clareza conceitual, reforça a responsabilidade do conselho e da alta direção e formaliza exigências que antes estavam implícitas. Em um país como o Brasil — que ainda ocupa a 107ª posição no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional —, essas mudanças têm implicações diretas para empresas públicas e privadas.
Neste artigo, mostramos as principais mudanças da ISO 37001:2025, o que muda no processo de certificação, e como essa norma se conecta às agendas de compliance, ESG e competitividade internacional.
O que é a ISO 37001?
A ISO 37001 é uma norma internacional da International Organization for Standardization que define requisitos para um Sistema de Gestão Antissuborno (SGAS). Voltada para empresas e entidades públicas, ela estabelece práticas formais para prevenir, detectar e responder ao suborno, em conformidade com legislações como a Lei Anticorrupção (Lei 12.846/13), o FCPA (EUA) e o UK Bribery Act.
Com a versão 2025, a norma passa a ter foco exclusivo no suborno — não abrange mais temas amplos de corrupção como lavagem de dinheiro, tráfico de influência ou nepotismo. Para essas outras práticas, recomenda-se integração com normas como a ISO 37301 (compliance) e a ISO 37002 (canal de denúncias).
Principais mudanças da ISO 37001:2025
A nova versão traz alterações significativas que refletem maior maturidade técnica e regulatória. Veja os principais pontos:
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Foco exclusivo em suborno
O escopo da norma agora trata exclusivamente da prevenção, detecção e resposta ao suborno, deixando claro que outras formas de corrupção não são contempladas diretamente. Isso exige controles e indicadores direcionados exclusivamente a esse risco específico.
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Alta Direção e Órgão Diretivo: papéis distintos
A ISO 37001:2025 estabelece uma separação clara entre a Alta Direção e o Órgão Diretivo (como conselhos de administração ou curadorias). O conselho não pode mais ser omisso: precisa aprovar políticas, garantir recursos e supervisionar ativamente o SGAS. Já a Alta Direção deve executar, integrar aos processos e liderar melhorias contínuas.
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Cultura antissuborno como pilar do sistema
A cultura organizacional deixa de ser uma decorrência implícita da boa governança e passa a ocupar papel central no sistema de gestão antissuborno. A norma exige que a organização documente e demonstre ações contínuas e estruturadas para promover valores de integridade, desencorajar condutas de risco e reforçar padrões éticos em todos os níveis hierárquicos.
Não se trata de endomarketing, mas de compromissos práticos. A cultura precisa ser alimentada por mecanismos de aprendizagem, reconhecimento de condutas exemplares, supervisão da coerência entre discurso e prática, e proteção ativa contra retaliação a quem denuncia de boa-fé. Mais do que ambiente ético, a ISO 37001:2025 exige um ecossistema ético gerido tecnicamente — com evidências e critérios de monitoramento.
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Liderança com responsabilidade ativa
A nova versão da norma é explícita ao retirar da liderança a posição passiva de “exemplo” e atribuir a ela responsabilidade contínua, rastreável e mensurável sobre o funcionamento do sistema antissuborno. A Alta Direção deve:
- Atuar como promotora ativa da cultura de integridade
- Garantir recursos técnicos, humanos e financeiros proporcionais ao risco
- Comunicar com frequência o valor do sistema e seu papel na sustentabilidade
- Responder por omissões ou falhas que comprometam os controles
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Declarações formais de comprometimento
Executivos, membros de conselhos e gestores que ocupem funções sensíveis deverão assinar, em intervalos definidos, declarações formais de comprometimento com a política antissuborno. Essas declarações serão cobradas em auditoria como evidência da adesão institucional e da consciência de risco.
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Due diligence também para colaboradores
A avaliação de integridade, antes aplicada quase exclusivamente a terceiros, agora deve ser estendida também ao público interno — especialmente em promoções ou movimentações para funções com risco relevante de suborno. A análise inclui:
- Histórico profissional
- Vínculos familiares ou societários
- Potenciais conflitos de interesse
- Passagens por áreas sensíveis
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Controles sobre decisões delegadas
Toda autoridade delegada deverá estar acompanhada de salvaguardas, como:
- Revisões cruzadas
- Limites de alçada
- Segregação de funções
- Validações superiores
Essas barreiras institucionais são essenciais para evitar desvios em áreas críticas como compras, contratos e relações com o setor público.
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Fortalecimento da função de compliance antissuborno
A norma reforça a exigência de que a área responsável pelo SGAS tenha:
- Independência funcional
- Acesso direto ao conselho e à Alta Direção
- Recursos adequados e autonomia técnica
O compliance antissuborno deixa de ser periférico e se torna um pilar da governança auditável.
O que muda na certificação
As empresas que buscam certificação na versão 2025 devem estar preparadas para auditorias mais rigorosas e exigentes. Entre os novos reflexos práticos:
- Mais entrevistas internas e cruzamento de fontes: verificando se a prática condiz com a documentação.
- Exigência de registros estratégicos: atas do conselho, evidências de revisão de políticas, declarações de conformidade.
- Integração com outras normas ISO (como 9001, 37301 e 37002), exigindo maior alinhamento sistêmico.
- Controles proporcionais aos riscos mapeados: com documentação que comprove critérios claros.
Nota: o Inmetro ainda não reconheceu oficialmente organismos certificadores para a ISO 37001:2025. Os primeiros auditores líderes estão sendo formados, e a homologação está em andamento.
A quem se aplica a ISO 37001?
A norma pode ser implementada por:
- Empresas privadas de qualquer porte
- Entidades públicas
- ONGs e fundações
- Grupos empresariais com atuação internacional
Inclusive PMEs podem se beneficiar — principalmente aquelas que participam de licitações públicas, estão em processo de fusão ou desejam atrair capital internacional.
Benefícios da certificação ISO 37001
Adotar a ISO 37001 vai muito além de fortalecer a imagem institucional. Trata-se de uma certificação estratégica que traz ganhos reais e sustentáveis:
- Redução de riscos legais e reputacionais
- Acesso facilitado a contratos internacionais
- Fortalecimento da governança ESG
- Aumento da confiança de investidores, conselhos e fornecedores
- Diferencial competitivo em setores regulados
ISO 37001 e ESG: qual a conexão?
A governança corporativa é um dos pilares fundamentais da agenda ESG (Environmental, Social and Governance), e a certificação ISO 37001 se apresenta como uma ferramenta estratégica diretamente alinhada a esse conceito. Em um cenário onde investidores institucionais, fundos internacionais e órgãos reguladores estão cada vez mais atentos aos mecanismos de integridade das organizações, a adoção da ISO 37001 reforça o compromisso com práticas éticas, controles internos robustos e prevenção da corrupção.
Empresas que buscam melhorar seus ratings de sustentabilidade, ampliar o acesso a capitais internacionais e cumprir rigorosamente os critérios de due diligence exigidos em processos de auditoria e contratação — especialmente em cadeias globais de valor — encontram na norma um padrão confiável para mitigar riscos reputacionais, fortalecer sua cultura organizacional e atender às expectativas crescentes de governança transparente e responsável.
Como obter a certificação ISO 37001:2025?
O processo inclui:
- Diagnóstico e avaliação de maturidade em compliance
- Planejamento e implementação dos controles exigidos
- Treinamentos internos e comunicação de riscos
- Auditoria externa por entidade acreditada
- Acompanhamento e melhoria contínua
Embora não seja uma obrigação legal, é fortemente valorizada por investidores, parceiros internacionais e órgãos públicos.
Conclusão: um selo que abre portas globais
A ISO 37001:2025 representa mais que uma atualização técnica: é uma evolução conceitual da governança e do compliance. Empresas que se anteciparem às novas exigências estarão mais preparadas para conquistar mercados regulados, superar auditorias complexas e atrair parcerias sólidas.
A certificação é, hoje, um passaporte para a confiança internacional e para a competitividade com integridade.
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